terça-feira, abril 22, 2008

O mar, a estrela e eu




Cai sobre mim a noite

manto negro a me cobrir
meu corpo na areia úmida
só uma estrela a luzir

lambem-me como açoite
as línguas d'água salgada
roçam a minha pele
tesam meu corpo todo
eriçam pelos e picos
deixando-me extasiada!

E a tal estrela sozinha
do alto a espiar
testemunha a minha sina!

Ardo em insanos ensejos
me ponho náufraga ao mar
entrego à ele meus seios
minha boca, meus entremeios
me faço amante ao relento
copulo com o mar sob o vento!

E a tal estrela sozinha
do alto a espiar
testemunha a sina minha!

Sina insana, sanha sã
desejo contido que aflora
na santa, na cortesã
na doce princesa que chora
é vida que explode ao relento
é vívido gozo que jorra
é puro contentamento
é amor que não tem hora.

E a tal estrela sozinha
do alto a espiar
descobre: não está sozinha
também sou amante do mar!
Ode à chuva



Dos céus despencam gotas cristalinas!
Benditos cristais a molhar minh'alma
chove alegria, chovem alentos
traz calmaria aos meus tormentos!

Bendita sois ó precipitação de vida!
Que desse céu escuro e sombrio
entre os rufos estrondosos e medonhos
dos teus dragões de fogo, em desvario
nos cobre com teu manto fúlgido
e em som melodioso, embala-nos os sonhos!

Bem vinda és, ó dama úmida e fértil!
Que traz à terra, seca e sem vida
teu mel que jorra abundante e vívido
tornando o solo fecundo e viril
no gozo intenso dessa cópula de abril!

Que chovam flores, sementes, vida nova!

E que nos olhos dessa pobre cortesã
de versos, rimas e nobres sentimentos
cesse (em tempo) essa agonia terçã!
Resvalando teus cristais, aliviando ais
e renovando pensamentos!

Ode à Lua

























Lua, amiga e companheira
das madrugadas vazias
me diz nessa noite cinzenta
neste arrebol que anuncias
donde veio esta tormenta?
quem desferiu este golpe?
quem decidiu meu destino?
Apunhalada e traída
abandonada à própria sorte
me entrego em batalha rendida
vítima dos meus desatinos
numa quase agonia de morte!

Serro as janelas d'alma
descerro as cortinas da vida
sou guerreira humilhada
sou infante, sou bandida
sou uma flor despetalada
sou meras quimeras perdidas
em meio ao pó desta estrada
nas batalhas e contendas
em tantas noites esquecidas!

Clamo aos céus por meu alento
que me venha em socorro
que essa Lua soberana,
dama imponente e altiva
me cubra com seu manto d'ouro
me adorne a fronte de estrelas
e vele pelo meu sono
que eu possa na alvorada
fortalecida e renovada
ganhar novamente a vida
empunhar a minha espada
erguer minha fronte aos céus
dar amor...e ser amada!